Jesus confronta as autoridades em Jerusalém
Após expulsar os comerciantes do Templo Jesus se retirou para Betânia e ali passou a noite. Noutro dia ele voltou, e circulava pelo Templo quando se aproximaram dele os chefes dos sacerdotes, os doutores da Lei e os anciãos (cf. Mc 11,27-33). Eles insistiram que Jesus comprovasse que era autorizado para agir como ele tinha feito no dia anterior. Neste momento Jesus toma a iniciativa; disse que comprovaria sua autoridade de provocar alterações no sistema econômico-financeiro centrado no Templo, se eles respondessem sua pergunta sobre a origem do Batismo de João: era de Deus ou dos homens? Seus adversários, embora fossem sutis, não deram conta de superar seu medo oriundo da popularidade de Jesus, e optaram para professar ignorância de origem do batismo de João, a fim de não contrariar a multidão. Diante de tal hipocrisia, Jesus recusou comprovar sua autoridade para agir contra a comercialização e uso da religiosidade popular em benefício próprio! Assim ele silenciou as elites, que vieram tomar satisfação com ele, pois ele sabe das contradições que marcam o agir deles, e a distância que as separa do povo.
Agora Jesus conta uma parábola, a dos agricultores assassinos (Mc 12,1-12). Ele se baseia no cântico da vinha, do profeta Isaias, 5,1-7. As autoridades de Jerusalém são, em geral grandes proprietários da terra; são denunciados como gananciosos e assassinos que avançam a qualquer custo sobre o que não lhes pertence. Neste contexto, é possível afirmar, que o fato da morte de Jesus é melhor compreendido na sequência de assassínios de muitos enviados de Deus chegando, inclusive o assassinato de João Batista por Herodes (cf. Mc 6,14-29). A referência a “pedra que os construtores rejeitaram, mas tornou-se a pedra angular” (cf. Sl 118,22-23) é tirar toda legitimidade do projeto que as elites representavam. Naquele momento, irados, queriam prender Jesus, pois entenderam que Jesus contou a parábola contra eles, mas foram embora sem fazer nada, dado que tinham medo da multidão.
Na sequência, o texto de Marcos nos fala da pergunta sobre a congruência de pagar imposto a César (cf. Mc 12,13-17). É uma pergunta astuciosa, uma armadilha preparada por alguns fariseus e herodianos, para pegar Jesus em alguma palavra. O ardiloso prefácio para a pergunta já evidencia a malicia dos autores da mesma (cf. Mc 12,14). Por isso, Jesus pede que eles produzam a moeda de imposto, examina a mesma junto com eles, e mostrar que ele tinha percebido a hipocrisia dos seus adversários. Outra vez Jesus devolve aos seus adversários a armadilha que tinham preparado para ele. O Nazareno insiste que é necessário devolver a Deus o que foi tirado, reivindica os direitos de Deus sobre o povo que lhe pertence e sobre a terra a este cedida. Aceitar pagar o imposto a César seria reconhecer a soberania romana sobre a terra que Deus confiou ao seu povo.
Os saduceus, por sua vez, procuram prender o Nazareno numa casuística bem elaborada nesta conjuntura (Mc 12,23-33). Eles que se importam apenas com este mundo, que eles tentam controlar, negam a ressurreição. Levantaram a pergunta sobre a lei de levirato (cf. Dt 25,5) e a fé na vida depois da morte. A história contada por eles aqui é de uma mulher que, fiel a cumprimento dessa lei de levirato, casa com sete irmãos, mas sem gerar filho para nenhum deles, ela também morre. Ela seria a mulher do qual deles, na ressurreição, na vida depois da morte? Lembrando-se de que os saduceus não suportam a ideia da ressurreição, muito menos a esperança que ela produz de um mundo renovado, onde os homens e mulheres não se relacionam em termos de propriedade nem por dominação deles sobre elas. Ao referir o episódio de sarça ardente (Ex 3) Jesus afirma que o Deus, cujo reino ele proclama é radicalmente comprometido com a vida para mulheres e homens, em todas as situações.
Vendo que Jesus tinha respondido bem, um dos doutores da Lei veio até ele e fez sua pergunta sobre o maior mandamento (Mc 22,34-40). Jesus igualou o amor a Deus a amor ao próximo. De fato, há uma referência aqui a Oseias 6,6 que valoriza o amor ao próximo mais do que todos os holocaustos e sacrifícios. O doutor da lei parece ter entendido e concordado. No entanto, isso não basta: é necessário comprometer-se com aquilo que se professa. Por isso Jesus disse a ele: “Você não está longe do Reino de Deus”. O autor faz questão de afirmar que ninguém mais tinha coragem de fazer perguntas a Jesus.
Na sequência, o Nazareno desfaz a expectativa reinante sobre o Messias, o filho de Davi, vai pelos caminhos de Davi (Mc 12,35-37). A expectativa de ele ser poderoso, cruel e violento como Davi, expulsando os imperialistas romanos e resgatando a glória antiga da nação, Israel, tratando de restaurar as realezas, recuperar poderes e privilégios. Citando Salmo 110,1 Jesus afirma que é falho considerar o Messias filho de Davi, pois o próprio Davi o chama de seu Senhor. A multidão o escutava com prazer.
Porém no próximo trecho (Mc 12,38-40) temos o pronunciamento de Jesus contra a hipocrisia religiosa. O Nazareno deixa bem claro sua condenação de quem utiliza o próprio saber religioso para encobrir o oportunismo e a exploração dos pobres. Aqui vale mencionar que no Evangelho de Mateus o capítulo 23,1-37 temos os sete ais elaborados detalhadamente evidenciando diversas faces de hipocrisia que contamina a religiosidade (até mesmo em nossos dias!).
O capítulo encerra-se com o episódio em que Jesus elogia a generosidade da viúva que depositou duas moedinhas, que iam fazer falta na sua vida, enquanto muitos outros depositavam somas vultosas do que lhes sobrava. Vale lembrar de que no trecho anterior Jesus dirigia suas palavras condenatórias aos doutores da Lei que “devorava” as casas das pobres viúvas desamparadas sob várias pretensões piedosas.
Da nossa análise do capítulo 12 do Evangelho de Marcos, percebemos que Jesus vive um momento de forte contestação; de um lado ele dizia e fazia deixava as multidões extasiadas, e de outro, grupos das elites faziam tudo o que podiam para desautorizar o rabino de Nazaré que tanto os incomodava com suas atitude subversivas e ameaçava seus privilégios. No entanto, não faltou quem compreendia o Nazareno, mesmo no meio da elite, como o doutor da Lei que interrogou Jesus sobre o maior mandamento (cf. Mc 12,28-34). Jesus tem a inciativa; a elite a serviço do poder imperial não desiste nas suas tentativas para destruir seu adversário morta, Jesus de Nazaré.
É dentro deste horizonte que nós vamos examinar o próximo capítul0 (13), considerado a escatologia de Marcos.
Pe. Kurian
Tags: Artigos, Padre Kurian
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