A discriminação racial no Brasil é muitas vezes tratada de maneira difusa. Decorada com alegorias históricas e eufemismos, a narrativa mais confortável começa na romantização de uma miscigenação consentida entre colonizadores brancos e mulheres índias ou pretas. Somos realmente um povo de uma cor só?
O IBGE classifica como negra a população formada por pretos e pardos. Outras nomenclaturas também representam abordagens políticas e metodológicas importantes. Usarei aqui o critério do IBGE.
Durante quatrocentos anos, cinco milhões de pessoas pretas foram sequestradas de suas vidas na África, para serem vendidas, humilhadas, escravizadas, torturadas, violentadas e assassinadas no Brasil.
Impressiona que para os Estados Unidos, por exemplo, foram enviados apenas 10% da quantidade de pretos traficados para o Brasil no mesmo período. Ainda assim, insiste-se em dizer que, falar em racismo brasileiro é querer importar um problema que só ocorre em outros países. Ainda nos referimos a ‘minorias negras’ em um país no qual 60% da população se autodeclara negra, o que significa que o percentual deve ser muito maior.
A mão de obra escravizada esteve na base da nossa produção agrícola e extrativista até o início do século 20, pois as formas de trabalho assemelhado à escravidão persistiram por décadas após a promulgação da Lei Áurea.
A virada do século 19 para o século 20 foi o auge da política de clarificação da população, trazendo imigrantes europeus para o Sudeste e o Sul do país, na esperança de ficarmos menos pretos do que gostaríamos.
Enquanto isso, milhões de negros e negras permaneciam privados do direito à terra, escola, saúde, voto, segurança e dignidade.
Por que entre os mais ricos quase não há pretos? Por que, entre os mais pobres, os negros são a grande maioria? Por que 75% das vítimas de homicídio são negras? Por que 80% dos mortos pela polícia são negros? Por que a população carcerária negra cresce a cada ano enquanto a de brancos diminui?
A resposta é uma só. Existe uma forma de racismo cristalizada no DNA do Brasil, tão profunda e antiga, que pode ser chamada de discriminação estrutural.
Somos um desses países inventados por mercantilistas do século 15, para que pudessem usurpar as riquezas dos territórios invadidos com base na escravização da população original e de pretos sequestrados. Estes escravizados, inclusive os mestiços, também se tornariam um dos produtos mais rentáveis.
Sabemos que 85% dos brasileiros vivem em áreas urbanas. Estamos falando de cem milhões de pessoas negras morando em mais de cinco mil cidades.
Cabe relembrar que a justificativa fundante do Estado democrático, incluídas as instituições municipais, é a prevenção e correção de desigualdades decorrentes dos mecanismos e princípios que movem a economia moderna.
Contudo, no Brasil, após o fim da escravatura e da monarquia, a República pseudo-liberal omitiu-se deliberadamente de promover a justiça social inserindo as famílias negras nas dinâmicas social, econômica e política.
Desse modo, uma discriminação racial intencional sedimentou-se culturalmente, como uma espécie de subpolítica pública de preservação da desigualdade, facilmente perceptível no dia a dia das nossas cidades até hoje.
É papel dos municípios juntar os diferentes segmentos da população urbana para planejarem, de maneira participativa e orgânica, o tipo de vida que se deseja e se merece ter, com atenção especial para os mais pobres e para os fatores raciais da exclusão.
Não teremos cidades seguras, tampouco importará se o Brasil é verde e amarelo, enquanto não reconhecermos que o Brasil é negro.
Por: Felipe Sampaio
Fonte: Diário de Pernambuco
Cobertura do Tereré NewsQuer ficar por dentro sobre as principais notícias de Mato Grosso do Sul, Brasil e do mundo? Siga o Tereré News nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram, no TikTok e no YouTube. Acompanhe!
Comunicado da Redação – Tereré News
Site de notícias em Campo Grande, aqui você encontra as últimas notícias da Capital e ainda Dourados, Três Lagoas, Corumbá, Ponta Porã, Sidrolândia, Naviraí, Nova Andradina e demais municípios de Mato Grosso do Sul. Destaque para seção de empregos e estágios, utilidade pública, publicidade legal e ainda Pantanal, Web Rádio, Saúde, Eleições 2022. Tereré News, Online desde 2017, anuncie conosco e tenha certeza de bons negócios.
Siga o Tereré News Nas Redes Sociais
Desenvolvido por Argo Soluções
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |