Homilia por ocasião da Santa Missa da Solenidade do Santíssimo Sacramento – Corpus Christi
Dom Dimas iniciou sua homilia agradecendo a todos que trabalharam na preparação de tantos trabalhos para que a Santa Missa e Procissão pudessem acontecer, após 2 anos de recolhimento por conta da pandemia do Covid-19.
Fez memória das histórias que ouvia, sempre com muita alegria, contadas por padres e bispos que faziam as desobrigas na Amazônia, e depois iam para a beira do rio e com suas lanternas esperavam que um barco aparecesse, sinalizavam para que encostasse na margem. Nosso bispo auxiliar teve a oportunidade de ser missionário na Amazônia, durante alguns anos, vivenciando de perto esta realidade. Disse aos padres e seminaristas que ao comemorar 65 anos de Arquidiocese, nós devemos redescobrir este espírito missionário.
Hoje temos muitos outros desafios. “Gostaria de dizer a todos nós: é tempo de sairmos da nossa zona de conforto, e que se formos criativos, e mesmo que não tenhamos as centenas de quilômetros para nos deslocar, muitas vezes em estradas precárias, continuamos a ter, e cada vez mais, centenas de milhares, já próximo de um milhão, de pessoas que precisam do anúncio do Evangelho. E isto somente será possível ser nos revestirmos do espírito missionário”.
“Saúdo com grande respeito e estima Dom Vitório, nosso arcebispo emérito, que esteve à frente desta arquidiocese por 26 anos. Saúdo nossos padres, diáconos, seminaristas, pessoas consagradas e todo o bom povo de Deus”.
“Durante a entrevista na TV Morena, na manhã de hoje, filial da Rede Globo, pude prestar homenagem aos nossos padres porque durante o tempo de pandemia não mediram esforços, ao saírem em carros pequenos quando o povo aguardava em suas casas, nas portas e varandas, para receberem a benção do Santíssimo. Muitos padres e diáconos foram contaminados pelo Covid-19 justamente porque não quiseram deixar que o povo ficasse sem a assistência espiritual”.
“E neste dia tão bonito, quando podemos voltar às ruas para dar nosso testemunho publico de fé na presença real de Jesus no Santíssimo Sacramento, vamos realizar um gesto que sempre vi como um símbolo da própria Igreja: estaremos em procissão com Jesus entre nós e a imagem de Nossa Senhora da Abadia. A Igreja é a assembleia convocada para ouvir a Palavra do Senhor e para celebrar a própria Salvação que ele nos concede, mas a Igreja é também um povo que está a caminho. Como diziam os Santos Padres, nós somos provenientes de todas as nações do mundo mas sabemos que não temos aqui morada permanente. Nós somos um povo de Deus a caminho. E como povo de Deus subsistimos enquanto somos Corpo de Cristo, e nesse corpo cada um de nós tem uma missão com seus dons e carismas. Portanto, quando caminharmos pelas ruas de Campo Grande, vamos com todo o nosso entendimento, nosso coração e nossa voz para cantar, orar, sabendo que este gesto não passa em vão diante daqueles que até mesmo nos prédios estarão nos vendo ou nos acompanhando pelas redes sociais”.
“No Evangelho de hoje, Jesus desafia os discípulos pois a multidão estava cansada e com fome: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13). Mas como, se havia somente 5 pães e 2 peixes?
Quero lembrar aquela música que já cantei muitas vezes: bastariam dois pães e dois peixes e o milagre do amor para acabar com tanta fome, ia acabar com tanta dor”. https://www.youtube.com/watch?v=e-Her-ox8-c
“Quando cheguei em Campo Grande, a cidade Morena se orgulhava por não ter favelas”.
“Eu chegava do Rio de Janeiro. Enfrentei realidades terríveis em tantas favelas, fome, desemprego, doenças, a segregação. Lá moram famílias santas, trabalhadoras, que viviam reféns do crime organizado. E eu vinha trabalhar em uma diocese que não tinha favelas… Fato é que nesses onze anos, as favelas de Campo Grande começaram a se multiplicar. Existem e são uma triste realidade a nos desafiar. Verdade, durante a pandemia foram multiplicados os gestos de solidariedade, de amor, com paróquias que distribuem até 600 refeições toda semana. Nossos moradores de rua são assistidos pelos nossos irmãos Vicentinos e pelas nossas pastorais sociais. Mas as favelas continuam. É preciso ter a caridade inteligente que ensinava Bento XVI, a caridade organizada de que falava São João Paulo II ressaltando que é preciso descobrir as novas formas de pobreza”.
“POR ISSO, HOJE, GOSTARIA DE COLOCAR NO CORAÇÃO DE JESUS E NO CORAÇÃO DAS NOSSAS PARÓQUIAS, AS NOSSAS FAVELAS.QUE TAL, ASSUMIRMOS O COMPROMISSO DE UM VERDADEIRO ARRASTÃO DE SOLIDARIEDADE, NÃO APENAS LEVANDO A COMIDA QUE É NECESSÁRIA, MAS LEVANDO TANTOS OUTROS GESTOS CRIATIVOS EM PARCERIA COM O PODER PÚBLICO PARA MINORAR O SOFRIMENTO DESTES NOSSOS IRMÃOS?”
“Para concluir, gostaria de reapresentar o desafio que Papa Francisco nos coloca na dimensão da misericórdia. Vivemos o Jubileu Extraordinário do Ano da Misericórdia com nossas três Portas Santas. Fomos lembrados de que além das obras da misericórdia corporais existem também as obras de misericórdia espirituais. Em breve acontecerá o encontro mundial das famílias com o Santo Padre que pediu aos bispos do mundo inteiro o envio de uma carta às famílias, incentivando-as a assumirem o seu papel na evangelização. Destaco agora a necessidade da reconciliação familiar”.
“Papa Francisco nos lembra aqueles que vivem nas periferias existenciais. Quem é pobre hoje? A criança que sobrevive do lixão? Sim ela é pobre. O morador de rua é pobre, sem dúvida. Muitos alegam que vários estão nas ruas porque querem. Então eu pergunto: por que querem ou porque estão desestruturados por dentro? Hoje, visitando a Santa Casa, tive o contato com a dura realidade de inúmeras famílias: uma idosa que teve alta há 4 meses, mas que a família não vai buscar”.
“A Eucaristia nos compromete. Que possamos ser missionários e missionárias da misericórdia onde quer que Deus queira nos enviar”.
Ascom.
Tags: Corpus Christi
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