Lamar Alexander era um dos quatro senadores republicanos necessários para aprovar a proposta dos democratas. O senador disse não serem necessárias “mais evidências para provar algo que já foi provado”, descrevendo a atuação do Presidente como “inapropriada”. Uma das testemunhas-chave seria o ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton
Tudo parece indicar que aquilo que os democratas mais temiam irá mesmo acontecer. A proposta de chamar testemunhas para depor no julgamento político de Donald Trump no Senado deverá ser chumbada. O cenário tornou-se mais claro esta quinta-feira quando o senador republicano Lamar Alexander anunciou que votará contra a proposta. Isto significa que o Presidente dos EUA poderá ser absolvido das acusações de abuso de poder e obstrução à ação do Congresso já esta sexta-feira.
Tendo em conta a distribuição na câmara alta do Congresso (53 senadores republicanos e 47 democratas), estes só precisariam do apoio de quatro republicanos para terem a maioria necessária para chamar testemunhas.
Além de Alexander, três outros senadores republicanos pareciam dispostos a votar desalinhados do partido. Mitt Romney e Susan Collins indicaram que gostariam de ouvir testemunhas, enquanto Lisa Murkowski continua indecisa. De qualquer modo, com o voto contra de Alexander, mesmo que Murkowski vote favoravelmente, a votação poderá terminar num empate.
Embora haja precedente de o juiz que conduz o processo desempatar, é improvável que John Roberts, que tem adotado uma postura não interventiva, o faça.
SENADO NÃO TEM PODER PARA DESTITUIR “SIMPLESMENTE POR CAUSA DE AÇÕES INAPROPRIADAS”
Ao justificar a sua decisão, Alexander disse não serem necessárias “mais evidências para provar algo que já foi provado”. O senador sublinhou que foi “inapropriado” o Presidente ter pedido a um líder estrangeiro que investigasse um rival político e ter retido a ajuda dos EUA “para encorajar essa investigação”. “Mas a Constituição não dá ao Senado o poder de tirar o Presidente do cargo e impedi-lo de concorrer às eleições deste ano simplesmente por causa de ações inapropriadas”, rematou.
O processo de ‘impeachment’ centra-se nas alegações de que Trump pressionou o seu homólogo ucraniano a anunciar publicamente uma investigação ao ex-vice-Presidente democrata Joe Biden. Em concreto, o Presidente da Ucrânia deveria anunciar que estava em curso uma investigação à produtora de gás Burisma, que contratara Hunter, filho de Biden, e só assim Kiev receberia a ajuda militar prometida.
Em dezembro, a Câmara dos Representantes, liderada pelos democratas, aprovou duas acusações formais contra Trump. Os democratas consideram que o Presidente abusou do cargo que ocupa ao pedir a Kiev para investigar Biden, um dos candidatos mais bem posicionados para conseguir a nomeação democrata às eleições de novembro. A acusação de obstrução baseia-se nas diretivas da Casa Branca para que os seus funcionários não cooperassem com o inquérito à destituição presidencial e para não serem disponibilizados os documentos solicitados.
O FATOR JOHN BOLTON
Uma das testemunhas-chave seria o antigo conselheiro de segurança nacional John Bolton. O jornal “The New York Times” revelou no domingo passagens de um livro, ainda não publicado, de Bolton. Nele, o ex-responsável revela como Trump lhe falou da sua determinação em reter a ajuda militar à Ucrânia até que Kiev concordasse em investigar Biden.
As passagens transcritas de “The Room Where It Happened” (A Sala Onde Aconteceu), com edição marcada para 17 de março, contêm detalhes sobre a atuação de altos funcionários da Casa Branca, incluindo o Secretário de Estado, Mike Pompeo, o procurador-geral, William Barr, e o chefe de gabinete interino, Mick Mulvaney.
Trump nega ter cometido quaisquer irregularidades e classifica o processo de ‘impeachment’ como “uma farsa”. É necessária uma maioria de dois terços para que o Presidente seja efetivamente destituído, um cenário bastante improvável, uma vez que, até ao momento, nenhum senador republicano deu indicação de que votaria pela destituição.
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