Enquanto mulher negra e defensora pública, vivo o dilema de ser narradora-personagem e narradora-observadora de histórias de vida forjadas sob opressão de gênero, de classe e de raça. Essa violência multifocal, que degrada tão profundamente a autoimagem de mulheres não-brancas, como eu, obsta nossa autovalorização, inibe o pleno desenvolvimento da nossa humanidade e reprime a potencialidade inerente à nossa existência.
Quando, de um lado, escuto de uma mulher branca, bem instruída, de classe média, em uma discussão trivial de trabalho, que “não sabe com que tipo de gente sou acostumada a lidar”, esse brado evoca a plenitude da minha energia reativa, que passa a ser redirecionada à ação e à transformação, primeiramente, em minha mente, para que eu, posteriormente, esteja habilitada a perseguir meios de mudança de realidades de vida para minhas irmãs de cor. Uma fala agressiva dessa e demonstrativa de hierarquização entre mulheres e de desrespeito à condição humana não me alcança apenas e não se projeta apenas em mim, em minha individualidade, mas também se reporta a todos os ascendentes, os contemporâneos e os descendentes negros e de origem popular que lutam dia após dia pela sobrevivência.
De outro, ao ouvir Negra Li com sua potente voz clamando para que fortaleçamos nossa autoestima e nossa autoimagem enquanto mulheres negras, na música “Mina”, reforço em mim mesma que a ideologia da dominação que escora o racismo não irá me petrificar, nem mesmo me desestimulará a criar condições para que irmãs de cor me acompanhem na luta por nossa existência e aceitação. “Viemos pra quebrar tabu/Pois a riqueza de ser mulher/É a beleza de poder ser o que bem quiser/Então bota a melhor roupa e seu afro hair/O mundo é seu e não importa o que alguém disser/Só vai!”
É por causa do racismo, e não através dele, que mulheres negras veem-se impelidas a vencer diariamente, a simplesmente sobreviver. E como sobrevivemos! Segundo pesquisa realizada em 2020 pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 73% das mulheres vítimas de feminicídio são negras. Entre os dados de comunicação de estupro ou agressão, o percentual de brancas aumenta, evidenciando que as mulheres brancas têm mais acesso aos canais de denúncia do que as negras.
Levantar da cama e juntar os cacos emocionais de uma autoestima devastada pela humilhação da objetificação e do desprezo, não é para fracas. Nós, mulheres negras, apesar de não termos (ainda) um lugar de pertencimento pleno dentro das estruturas sociais superiores – por onde transitam naturalmente as brancas – devemos nos encorajar e encorajar umas as outras para que possamos mudar a percepção de nós mesmas e como os outros nos veem sob as lentes de estereótipos concebidos pela branquitude.
Sair de casa todos os dias para o trabalho ou escola, com maior exposição a assédios em transportes públicos; enxugar as lágrimas de luto pela perda de um filho, vítima de desaparecimento forçado; ver-se alijada ou preterida do acesso a políticas sociais; receber o olhar racista de nojo lançado sobre nós quando acessamos espaços da branquitude; sofrer com a fome dos filhos em meio a uma pandemia sem fim, que eliminou sua fonte de renda; ter que suportar as pequenas agressões diárias de racismo, enfim, são demonstrações de força e resiliência que marcam a vida de mulheres negras, guerreiras que somos e intransigíveis que somos quando o assunto é correr atrás dos nossos sonhos.
Nossa potestade é a nossa vitória e símbolo da nossa resistência! Aclamado seja o dia 25 de julho, Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha! Uma data especial de lembrança de tudo o que já alcançamos e o que vamos alcançar pela nossa obstinação! Mulher negra: “O mundo é seu e não importa o que alguém disser. Só vai!”
DPE MS
Tags: Justiça
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