“Doutor, não me deixa morrer, por favor”. Esse é o apelo de pacientes que o médico Luiz Augusto Possi Júnior relembra ao destacar a importância de ter responsabilidade ao falarmos de Covid-19. A enfermeira Thaís Matoso Dantas considera que um dos maiores desafios é explicar aos pacientes a necessidade de serem entubados e ser o único apoio deles nesse momento, devido o isolamento imposto e necessário. Ela comenta, ainda, outro desafio em ser enfermeira: “Ter que voltar pra casa e não poder abraçar minha mãe, que é do grupo de risco, por receio de contaminá-la”.
Os profissionais da saúde enfrentaram neste ano muitos desafios, na linha de frente em combate ao inimigo invisível e desconhecido. Na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), os deputados aprovaram propostas que buscam auxiliar no combate à propagação do vírus da Covid-19. Um exemplo é a Lei 5.575 de 2020, que obriga estabelecimentos públicos e privados a disponibilizarem álcool em gel. Para Possi Júnior, médico cardiologista que atende pacientes com Covid em um dos hospitais da Capital, iniciativas como essa são úteis, no entanto é preciso também dar o exemplo e se pautar sempre ao que é comprovado cientificamente.
“Pelo comportamento que temos, acho que a lei é útil, acaba estimulando que empresários disponibilizem o álcool em gel e que as pessoas façam a limpeza das mãos, que é algo que deveria ser hábito. Na minha opinião, o legislador tem o papel de acrescentar algo definitivo para a nossa saúde e que não esteja no nosso costume ainda. E o político tem que ser assertivo com o que tem definido cientificamente, não cabe a ele avaliar as situações sem técnica, é preciso ouvir a ciência sempre”, afirmou o médico.
A enfermeira Thaís também considera que os projetos de lei são importantes para o combate à pandemia, mas também avalia que é preciso mais do que isso. “As propostas são importantes sim, porém isoladamente não são suficientes. Devemos reforçar o distanciamento social, o uso de máscaras, e o limite de lotação determinada pela lei. A lavagem das mãos e o uso do álcool em gel devem ser mantidos sempre”, alertou.
Para esses profissionais, as autoridades em geral devem ser exemplo. “Como nossos representantes, os políticos devem, primeiramente, ser exemplos, e propagar o uso de máscaras, álcool em gel, reforçando também a fiscalização dos estabelecimentos que não cumprem as regras, ocasionando superlotação e contribuindo a propagação do vírus”, disse a enfermeira.
Desafios no combate à pandemia
Possi Júnior comenta os desafios iniciais da pandemia. “No começo, era o enfrentamento de uma doença nova, ficamos com muito medo vendo aquelas imagens da Itália, os lugares abarrotados de pacientes graves. Assim que divulgaram as diretrizes iniciais, explicando como que seria nosso trabalho, começou a construção de um conhecimento de como lidar com uma doença nova e mortal. Isso na fase inicial foi muito difícil”, afirmou o médico.
Júnior conta, ainda, que com o passar dos meses, as equipes conseguiram dividir o trabalho, fazendo várias reuniões e cursos. “Por volta de agosto foi nosso pico da doença, mas não tivemos falta de vagas na fase inicial. E quando achamos que estava tudo melhor, atualmente, voltou a crescer o número de pacientes. Na minha visão, hoje está muito pior do que estava em agosto. A vantagem é que a doença não é mais algo tão desconhecido. A gente já sabe como lidar, a gente observa o paciente, tem uma noção de quem vai evoluir bem e quem vai evoluir mal. Mas mesmo assim continua sendo algo diferente de tudo que nós já vimos”.
Thaís, enfermeira que adiou o seu casamento por conta da pandemia, afirma que é muito difícil ser forte diante de um paciente que está “cansado demais e os pulmões muito comprometidos para seguir respirando sem auxílio, ter que entubar e ser o único apoio dessas pessoas, gerir o setor tendo que abrir novos leitos, muitas vezes improvisados, para suprir a demanda por já não ter mais onde colocar pacientes”.
Júnior, por sua vez, destaca a importância de ver a doença com sensibilidade, colocando à frente o verdadeiro interesse que deve nortear todas as decisões, que é a saúde e a vida. Ele acompanha o sofrimento das pessoas doentes e afirma que enquanto os profissionais da linha de frente buscam oferecer o atendimento mais humanizado, é preciso que a população e as autoridades, assim como a imprensa, não virem as costas. “Não dá para relaxar e dizer que está tudo bem. É preciso conhecer a verdadeira guerra que acontece dentro dos hospitais, ali está a verdade. A guerra entre a mídia e a classe política é um desserviço na nossa luta”, frisou o médico.
Por: Ana Maria Assis
Fonte: ALEMS
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