O Google e a fabricante de chipsets Qualcomm anunciaram uma mudança no Android elaborada para permitir que smartphones recebam atualizações por até quatro anos. Com a simplificação do sistema de atualização, o objetivo é diminuir a quantidade de dispositivos que permanecem em versões antigas do sistema, sem os recursos mais novos e com vulnerabilidades conhecidas em sua segurança.
A Qualcomm é uma fabricante de chipsets ou SoCs (“sistema em um chip”, na sigla em inglês). Esse componente funciona como “cérebro” do celular, e traz eletrônicos dedicados para diversas modalidades de processamento, incluindo gráficos, fotos, comunicação sem fio e atividades gerais do smartphone. Muitos aparelhos topo de linha utilizam os chips Snapdragon da Qualcomm.
A decisão de distribuir uma atualização do sistema permanecerá nas mãos da fabricante do aparelho. A Samsung anunciou em agosto um compromisso de atualizar seus aparelhos da linha Galaxy S por três gerações do Android, mas diversas fabricantes não adotam uma postura transparente sobre este tema.
Ao contrário do iPhone, da Apple, que utiliza componentes da própria marca em sua fabricação, celulares com Android são muitas vezes montados a partir de peças de terceiros, como a Qualcomm. Se esses fornecedores não garantirem a compatibilidade com novas versões do Android, o produto final também não poderá receber uma atualização.
O Google e a Qualcomm então colaboraram para projetar um mecanismo de atualização para o Android que facilitasse a manutenção da compatibilidade do hardware, modificando a arquitetura conhecida com o “Treble” e o próprio Android.
O ‘novo’ Treble do Android 11
O Android é um sistema de código aberto, permitindo que cada marca de smartphone o modifique para criar uma experiência única e diferenciada dos concorrentes. Essas mudanças precisavam ser refeitas ou remodeladas a cada atualização do Android, e muitos fabricantes decidiam não atualizar seus aparelhos devido aos custos e incompatibilidades.
No Android 8, o Google introduziu o Treble, um mecanismo de atualização que divide o Android em camadas. Com o Treble, as modificações dos fabricantes são colocadas “por cima” da base do sistema, não sendo mais necessário mexer nos componentes básicos.
Isso reduz os custos para manter as modificações da fabricante compatíveis com versões novas do sistema. Inclusive, o Treble prevê que o próprio Android seja programado, pelo Google, de forma a garantir a compatibilidade com modificações feitas para versões anteriores.
Essa compatibilidade, porém, não valia para o hardware. Se um celular fosse lançado com Android 8 e depois atualizado para Android 9, por exemplo, a camada base do sistema não seria a igual a de um modelo que saiu de fábrica com mesmo chip, porém com Android 9. Na prática, a Qualcomm e outros fabricantes tinham de criar e manter diversas camadas de sistema – uma para cada configuração.
Com as mudanças feitas ao Treble a partir do Android 11, até quatro versões do Android serão retrocompatíveis com um mesmo chip, não exigindo mais a manutenção de versões diferentes do software que o sistema precisa para funcionar com o chip.
Processador Qualcomm Snapdragon 888. — Foto: Divulgação/Qualcomm
Processador Qualcomm Snapdragon 888. — Foto: Divulgação/Qualcomm
Por enquanto, a novidade só vale para aparelhos com Snapdragon 888 – que é o atual modelo topo de linha da Qualcomm. A fabricante prevê, no entanto, que a novidade chegue para os chips mais modestos.
Para que servem as atualizações
Além de permitir que aparelhos antigos sejam compatíveis com as versões mais recentes de aplicativos e com as funções mais novas do sistema, as atualizações desempenham um papel fundamental para a proteção de dados.
São as atualizações que garantem a segurança de uso do smartphone. Sistemas desatualizados não contêm correções para vulnerabilidades conhecidas, o que simplifica ataques de hackers contra esses sistemas. É mais fácil, por exemplo, para burlar a tela de bloqueio ou criar um app que obtenha permissões maiores do que as concedidas pelo usuário.
A maioria dos aparelhos com Android é atualizado por menos de três anos – muitos não chegam a dois anos. Porém, isso não significa que esses aparelhos são imunes a falhas graves. Em julho, a Samsung lançou uma atualização especial para corrigir uma brecha crítica no processamento de fotos dos seus celulares, que poderia comprometer os dados do telefone com um SMS. O Galaxy S5, de 2014, foi um dos modelos a receber essa atualização, embora não estivesse mais recebendo mais atualizações oficiais desde o Android 6, de 2015.
Mesmo com a promessa de quatro anos de atualização, o Android ainda não alcançaria o cronograma atual da Apple. A fabricante do iPhone mantém regularmente o iOS 13 atualizado para o iPhone 6S, lançado em 2015, e iPadOS 14 com o iPad Air 2, de 2014.
Para a Apple, manter os iPhones atualizados traz a vantagem de manter esses aparelhos compatíveis com as técnicas mais recentes de desenvolvimento de aplicativos, diminuindo custos para criadores de apps – o que tem o potencial de melhorar os apps disponíveis e, com isso, permitir que a Apple fature mais com as comissões de venda.
No Android, esse benefício não existe na mesma proporção para os fabricantes. A Play Store é controlada pelo Google e, mesmo que a empresa compartilhe parte do faturamento com os fabricantes, esse repasse não será integral, como é com a Apple.
Por : Altieres Rohr
Fonte: G1
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