O Nazareno fala do fim dos tempos – O discurso escatológico nos evangelhos (3)
Está na hora de examinar o discurso escatológico nos outros evangelhos sinóticos. No texto de capítulo 24 do Evangelho de Mateus nós temos todo o conteúdo que encontramos em Marcos, com uma elaboração mais ampla. Dá para sentir neste texto até uma tensão maior que existe entre Jesus e seus adversários, os detentores de poder. Já no capítulo 21 de Mateus, bem antes do texto que fala do fim dos tempos, há um discurso implacável de Jesus contra a hipocrisia religiosa das elites (Mt 21,1-12). Os sete “ais” contra os escribas e fariseus que exerciam controle despótico da vida religiosa do povo judeu (Mt 23,13-36) não deixa ninguém dúvidar quanto ao que Jesus sentia a respeito dos seus adversários.
No capítulo 25 de Mateus, que vem depois do texto de discurso escatológico (cap.24), há duas parábolas que elaboram e enfatizam a necessidade de estar vigilantes para poder entrar no Reino de Deus. A parábola das dez virgens (vv.1-13) e a parábola dos talentos (vv.14-30) necessitam de “hermenêutica de suspeita” para descobrir sua mensagem para nós hoje. À primeira vista não aparece o significado mais profundo que o Nazareno comunica.
Neste capítulo há ainda uma terceira parábola que elabora detalhadamente o julgamento das nações (vv.31-46). O notável no juízo final é a importância da decisão humana baseada nos valores do Reino para poder entrar neste Reino, preparado para todos os povos, desde a criação do mundo.
Passando mais adiante para o Evangelho de Lucas, é no seu capítulo 21 que encontramos o discurso escatológico. Aqui há um acréscimo, um fato que tinha exacerbado a tensão entre Jesus e as elites hierosolimitanos. Jesus demoliu a imagem popular que se tinha, entre as elites principalmente, de o Messias ser o “filho de Davi” (Lc 20,41-47). Efetivamente o Nazareno deixou a identidade de Messias como um enigma. O texto de Lucas, em seguida, tem a condenação contra a hipocrisia religiosa, menos detalhada do que no evangelho de Mateus, mas nem por isso menos severo.
O discurso escatológico começa com Jesus elogiando a generosidade da pobre viúva, vítima do sistema (cf. Lc 20,47). São os mesmos elementos que encontramos em Marcos e Mateus, que compõem a fala de Nazareno sobre “o fim dos tempos”: a destruição do templo; tentativas para enganar pelos falsos profetas e messias, perseguição, rumores de guerras, traições, revoluções e fenômenos naturais fora de comum. O importante no meio de tudo isso é ficar sobreaviso, persistir e atravessar estes momentos dando testemunho. A destruição de Jerusalém e a vinda do Filho do Homem, são sinais que apontam para a libertação, a instauração do Reino de Deus. E a práxis de Jesus de Nazaré, contada nos evangelhos, não deixa dúvida alguma sobre este Reino, que é uma maneira radicalmente nova de organizar a sociedade humana. Para Lucas também, aprender a lição da figueira e orar e vigiar sempre para que as preocupações de vida como a riqueza e a busca de poder não desviem os discípulos do seu caminho. Percebemos que vigilância permanente é a atitude requerida do discípulo missionário cidadão de hoje.
Aqui surge uma pergunta: o que é que estes textos têm a ver com os nossos dias? Será que eles contêm alguma mensagem relevante para os cristãos de hoje? Não é difícil notar a semelhança dos nossos tempos com a época de Jesus e, as expectativas que marcavam os povos daqueles tempos. O nosso mundo hoje passa por um momento de, o que pode ser caracterizado como “dores de parto”. Ideologias, políticas e doutrinas tradicionais estão sendo reexaminadas em nossos dias, já que elas não correspondem mais aos anseios do coração humano. Há uma polarização visível diante do avanço brutal do neoliberalismo. Elementos como Vladimir Putin, Donald J. Trump, Xi Jiping, Narendra Modi, Jair Bolsonaro e seus similares, no poder, são catalisadores de todo um processo histórico em percurso hoje.
Na atualidade, mercadores de sentimentos religiosos, que enganam os crédulos e desatentos, não faltam. Quanto a “a abominação de desolação” (Mc 13,14) resta pouca dúvida quanto à sua identidade hoje: o consumo desenfreado e a adoração de deus “lucro”. Vemos que aqueles que permanecem firmes na sua fé em Deus revelado na pessoa de Jesus de Nazaré, um Deus Libertador, são contundidos por empreendimentos bilionários usando técnicas mais atualizadas do marketing e bullying. Um exemplo disso é a campanha que Steve Bannon, que foi o coordenador da campanha eleitoral que levou Donald J. Trump a presidência dos EUA, encabeça contra o Papa Francisco, caracterizando-o “comunista”, numa tentativa de subjugar a Igreja Católica aos interesses econômicos nefastos imperialistas dos EUA.
Não faz muito tempo, apareceram painéis ao ar livre, nas diversas localidades de Campo Grande-MS, desafiando o Arcebispo pronunciar sobre a supostamente “condenada teologia de Libertação”. É necessário, duvidar que esta faz parte da campanha para dominar e subjugar a todos ao deus de “ganância sem limites” do neoliberalismo neocolonial? Uma coisa ficou bem clara: os patrocinadores destes painéis: “nós os católicos”, sem dúvida uma fachada enganosa. Estes sofrem aparentemente de grande carência de formação e informação. Evidenciou-se simples desconhecimento da mensagem bíblica; em segundo lugar, não sabem que até agora ninguém condenou a Teologia de Libertação; em terceiro lugar, a ostensiva ignorância do significado da práxis de Jesus de Nazaré – o crucificado e Ressuscitado; pior ainda estes “nós os católicos” não tem noção nenhuma da doutrina social da Igreja Católica.
Além de tudo isso, mesmo dentro da Igreja católica há perplexidade, pois a facção que trabalhou para anular a abertura que a iluminação do Espírito Santo instaurou na Igreja eurocêntrica está sendo contestada por forças mais alinhadas com a abertura que o Concílio Vaticano II trouxe para ela, neste momento que tem marcas de “dores de parto”. Isto só reforça a relevância do verbo grego blepéte (=ficar atento, sobreaviso) usado quatro vezes no capítulo treze de Mc (13,5.9.23.33). É a capacidade de ler os sinais dos tempos e se posicionar no lado do Reino de Deus, o necessário hoje mais do que nunca!
Pe. Kurian.
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